Em meio a entulhos, álcool, lixo, crack... Assim vive a maioria dos moradores de rua de Mirassol. Vidas degradadas. E é desse meio que Ministério Público e Prefeitura estão trabalhando incessantemente para retirá-los.
O trabalho começou cedo, na manhã da última sexta-feira (28/01). Equipes do Departamento de Ação Social (CRAS, CREAS e CEMCA), e o Promotor José Heitor do Santos percorreram a cidade abordando essas pessoas que vivem nas ruas. Policiais Militares acompanharam todo o percurso, pois, segundo o Promotor, "essa é uma abordagem difícil, principalmente porque a maioria faz uso de drogas".
Para o Psicólogo Marcus Vinícius Gabriel, os moradores de rua podem ser divididos em dois grupos, os delinquentes e os sem vínculos. Os delinquentes possuem perfil agressivo e cometem furtos e roubos para o uso de substâncias químicas. Já os sem vínculos, não possuem perfil agressivo, não fazem uso de crack, se tornaram moradores de rua por brigas na família, desemprego, e outros motivos, entretanto, desejam voltar ao convívio familiar.
Um fato que chama a atenção, já constatado em outros levantamentos realizados pelo Departamento de Ação Social, é que dos 30 moradores de rua abordados nesta ação, somente 4 são de Mirassol e outros 4 possuem residência fixa, o que totaliza 22 andarilhos de outras cidades. Outro dado, triste, é que dezenove deles declararam fazer uso de crack (no momento da abordagem onze usavam a substância). Sete assumiram ser alcoólatras. Oito possuem passagem pela polícia, por crimes de roubo, furto e agressão.
Se por um lado alguns querem se tratar, mas não encontram vagas em casas de recuperação ou hospitais e desistem, por outro, há indivíduos que agem agressivamente à ajuda oferecida, como no caso de M., que foi surpreendida fumando crack na abordagem e encaminhada ao CREAS, e que declarou: "Se eu quisesse ajuda, teria vindo aqui sozinha".
"Enquanto houver uma pessoa nas ruas é o maior símbolo de que toda a sociedade está doente. Vejo a sociedade como um organismo, se uma parte não funciona, todas as outras são prejudicadas", disse a Diretora do Departamento de Ação Social, Maria José Sacchi Imbernom (Zezé), que em seu histórico de vida sempre se engajou em lutas pelos menos favorecidos.
O objetivo dessa ação foi registrar, encaminhar para as famílias e tratá-los. Cinco moradores de rua foram encaminhados às suas cidades de origem. Um deles foi internado em uma casa para dependentes químicos, em Batatais.
Medidas
"Esse não é um trabalho somente da Ação Social, envolve também outros Departamentos, como Obras (lacrar imóveis) e o da Saúde (buscando internações). Todos têm que colaborar, os municípios vizinhos também têm que cuidar de seus moradores", assegura o Promotor José Heitor dos Santos.
"Esse não é um trabalho somente da Ação Social, envolve também outros Departamentos, como Obras (lacrar imóveis) e o da Saúde (buscando internações). Todos têm que colaborar, os municípios vizinhos também têm que cuidar de seus moradores", assegura o Promotor José Heitor dos Santos.
A Diretora do Depto. de Ação Social informou que na sexta-feira, 28/01, vinte e dois moradores de rua foram abrigados no Centro Espírita "Vicente de Paulo", que funciona como um albergue noturno.
"Essas pessoas precisam ser tratadas com dignidade e não podem ficar na rua. Ninguém é capaz de trabalhar doente", disse ainda o Promotor.
Observações Pessoais
Tive a oportunidade de acompanhar a Polícia Militar e a equipe do Departamento de Ação Social nas abordagens, foi uma experiência e tanto. Ver aquelas pessoas "noiadas" extremamente agressivas, mas também vê-las depois do efeito da droga e poder conversar com elas, me fez notar toda a carência familiar que elas possuem, muitas afundadas em meio a decepções, desemprego e vício. Vício fácil, visto que o crack,droga barata e de fácil acesso, tem levado vidas de cada vez mais pessoas. Ter feito essa matéria foi uma experiência forte, mas que me tornou mais certa na escolha da profissão que fiz. Amo o que eu faço.
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