quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Heitor Villa-Lobos: O Boêmio Patriota

Nascido de sete meses em um período nacionalista, Heitor Villa-Lobos tinha vontade de vir mais cedo ao mundo para mostrar sua genialidade e transformar nossa música brasileira, totalmente influenciada pela Europa, na época. Considerado o precursor do que hoje chamamos de música erudita brasileira, o carioca quebrou fronteiras e criou nossa própria identidade cultural no estilo clássico. Na mesma década de seu nascimento, a história do Brasil foi marcada pela abolição da escravatura e a proclamação da república.
É a partir de Villa-Lobos que o País descobre a música erudita e passa, desde então, a produzir talentos em série como: Lorenzo Fernandez, Francisco Mignone, Radamés Gnatalli, Camargo Guarnieri, Guerra-Peixe, Cláudio Santoro e Edino Krieger, alguns desses expoentes.
A Música Erudita dos primeiros séculos de colonização portuguesa vinculava-se estritamente à Igreja e à catequese, Villa-Lobos inovou e criou a face musical do Brasil, baseada essencialmente no nosso folclore. Foi através de fonogramas que guardavam registros da musicalidade indígena que o compositor criou uma de suas mais famosas canções: Uirapuru.
Não parece maluquice imaginar um compositor de música clássica ter como base a cultura dos índios para criar canções eruditas, numa época que a Europa ditava tendências? Villa-Lobos fez. Entre outras músicas famosas estão as Bachianas Brasileiras, músicas dramáticas, sinfonias, óperas e inúmeras outras canções. São mais de 1000 composições registradas.
Ousado, em 1922 junto com artistas famosos como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral e Manoel Bandeira, Villa trabalhou na organização da Semana de Arte Moderna. Com uma doença que o fez enfaixar os pés e ser considerado “aleijado” pela plateia, é durante essa semana inovadora que lhe acertam tomates e ovos podres em reprovação ao trabalho apresentado. Para muitos, a música de Villa-Lobos era 8 ou 80. Ou amavam ou odiavam. Ele não se abalou. De lá, disse: “Recebi uma coroa de vaias que me cobriu de glórias”.
Convidado por Getúlio Vargas, o músico trabalhou no programa de Educação Musical das escolas do então presidente. Fazendo uso das manifestações folclóricas, Lobos ajudou a compor as principais canções de exaltação do Governo Vargas. Villa acreditava que com esse trabalho, poderia desenvolver a intelectualidade e o interesse das crianças pela arte brasileira. Getúlio enxergou como uma arma publicitária para seu governo ditador.
Anos depois de viajar por diferentes países do mundo, em 1956, Villa-Lobos descobre um câncer. É essa a doença que três anos mais tarde levaria o músico à morte. Amigos próximos e companheira Mindinha, contam que durante uma das últimas entrevistas antes de falecer, uma jornalista raposa o questiona: “Que tipo de canções o senhor está compondo?”. E ele, debilitado pela doença, mas sem nunca perder seu humor natural, brinca: “Eu, minha querida? Eu estou decompondo”. Assim é parte da história do primeiro músico que mudou a visão do brasileiro sobre sua própria cultura e o sensível patriota que identificou que o Brasil não é Europa. 

domingo, 9 de junho de 2013

Mercado da informação



Historicamente a mídia foi criada para atender as necessidades de um grupo específico. Técnicas de manipulação e domínio podem ser observadas facilmente desde que o canal foi inserido no País. Através de uma espécie de jornal informativo, veiculado em 1808 com o intuito de transmitir mensagens publicitárias, acontecimentos do país e novidades da Europa, a mídia teve como principal objetivo moldar comportamentos e idéias da população, fato que não é diferente hoje.

Antes da chegada da família real, toda atividade de imprensa era proibida no país. Não era permitido publicar livros, panfletos e, muito menos, jornais. Mesmo sendo um órgão oficial do governo português, o jornal a Gazeta era editado sob censura prévia, que só foi extinta anos depois. A imprensa no século XIX não era concebida com o caráter noticiário de hoje e, sim, doutrinário. As notícias que o jornal veiculava eram de interesse direto da corte, pretendendo moldar a opinião pública a favor da realeza. O que se percebe hoje é que apesar da liberdade de imprensa adquirida, a informação que irá circular nas ruas ainda continua dependendo de uma série de interesses.

Essa liberdade de imprensa, conquistada através da luta dos militantes e que contrariavam sistemas políticos que eram verdadeiras ditaduras, possibilitou essa renovação e dinamização midiática. Agora, temos meios de comunicação diferentes que difundem múltiplos pontos de vista. Um benefício para a democracia e liberdade de expressão.

Trazendo a utilização das mídias para a esfera jornalística é perceptível que os comunicadores vivem dilemas profissionais. A postura editorial de um jornal, o vínculo com empresas de patrocínio ou anunciantes pode comprometer a informação que será veiculada, afetando a opinião de milhares de pessoas que lerão determinado veículo. A mídia informa o que você realmente precisa saber ou noticia o que é interessante para ela? É claro que a aceitação ou não dessa informação depende da bagagem cultural e educacional de cada cidadão, mas se levarmos em conta o ensino público e a cultura de massa é notável que a mídia continua agindo, sim, como um “quarto poder”.

A questão é ainda mais complexa: a mídia e todas as suas possibilidades tecnológicas funciona como um verdadeiro paradoxo. A mídia condena e inocenta, elege e derruba. Ao mesmo tempo em que ela pode dar voz à população e colaborar com a investigação de casos, como o do Carandiru (em que um policial que participou da ação, registrou com uma máquina pessoal o excesso e o abuso de autoridade cometido pelos militares, parte importante no processo judicial que hoje está em andamento e que, na época, foi divulgado pelo repórter Marcelo Godoy) ela destrói moralmente para sempre a vida de pessoas que muitas vezes não fizeram nada, como o Caso Escola Base.

Partindo do princípio da informação e ainda sobre a questão do tipo de notícia que é veiculada, e de seu papel social na nossa comunidade, como é possível a mídia abrir mão ou ocultar medidas que refletem em gerações humanas? (como o caso da medida do governador Geraldo Alckmin que prevê o fim de disciplinas como História, Geografia e Ciências para alunos do ensino fundamental de escolas integrais). Como é possível uma notícia tão relevante sequer ter cobertura? Muito mais importante do que pensar nos benefícios financeiros da profissão, é importante ter consciência da questão social e a cobertura que cada caso deve ter. Será que nós, jornalistas, seremos capazes de cumprir nosso dever? Será que esse mercado da informação não tem um preço alto demais?

Não podemos viver sem as mídias e temos a certeza de que elas nunca irão acabar principalmente pelo grande avanço tecnológico e o surgimento de novos veículos e canais de informação jornalísticos e publicitários. O que não se deve esquecer é a importância social desses meios na construção da opinião pública e na relação emocional da população sobre o que é noticiado, mostrado e divulgado. Como será o futuro da informação?