quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Heitor Villa-Lobos: O Boêmio Patriota

Nascido de sete meses em um período nacionalista, Heitor Villa-Lobos tinha vontade de vir mais cedo ao mundo para mostrar sua genialidade e transformar nossa música brasileira, totalmente influenciada pela Europa, na época. Considerado o precursor do que hoje chamamos de música erudita brasileira, o carioca quebrou fronteiras e criou nossa própria identidade cultural no estilo clássico. Na mesma década de seu nascimento, a história do Brasil foi marcada pela abolição da escravatura e a proclamação da república.
É a partir de Villa-Lobos que o País descobre a música erudita e passa, desde então, a produzir talentos em série como: Lorenzo Fernandez, Francisco Mignone, Radamés Gnatalli, Camargo Guarnieri, Guerra-Peixe, Cláudio Santoro e Edino Krieger, alguns desses expoentes.
A Música Erudita dos primeiros séculos de colonização portuguesa vinculava-se estritamente à Igreja e à catequese, Villa-Lobos inovou e criou a face musical do Brasil, baseada essencialmente no nosso folclore. Foi através de fonogramas que guardavam registros da musicalidade indígena que o compositor criou uma de suas mais famosas canções: Uirapuru.
Não parece maluquice imaginar um compositor de música clássica ter como base a cultura dos índios para criar canções eruditas, numa época que a Europa ditava tendências? Villa-Lobos fez. Entre outras músicas famosas estão as Bachianas Brasileiras, músicas dramáticas, sinfonias, óperas e inúmeras outras canções. São mais de 1000 composições registradas.
Ousado, em 1922 junto com artistas famosos como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral e Manoel Bandeira, Villa trabalhou na organização da Semana de Arte Moderna. Com uma doença que o fez enfaixar os pés e ser considerado “aleijado” pela plateia, é durante essa semana inovadora que lhe acertam tomates e ovos podres em reprovação ao trabalho apresentado. Para muitos, a música de Villa-Lobos era 8 ou 80. Ou amavam ou odiavam. Ele não se abalou. De lá, disse: “Recebi uma coroa de vaias que me cobriu de glórias”.
Convidado por Getúlio Vargas, o músico trabalhou no programa de Educação Musical das escolas do então presidente. Fazendo uso das manifestações folclóricas, Lobos ajudou a compor as principais canções de exaltação do Governo Vargas. Villa acreditava que com esse trabalho, poderia desenvolver a intelectualidade e o interesse das crianças pela arte brasileira. Getúlio enxergou como uma arma publicitária para seu governo ditador.
Anos depois de viajar por diferentes países do mundo, em 1956, Villa-Lobos descobre um câncer. É essa a doença que três anos mais tarde levaria o músico à morte. Amigos próximos e companheira Mindinha, contam que durante uma das últimas entrevistas antes de falecer, uma jornalista raposa o questiona: “Que tipo de canções o senhor está compondo?”. E ele, debilitado pela doença, mas sem nunca perder seu humor natural, brinca: “Eu, minha querida? Eu estou decompondo”. Assim é parte da história do primeiro músico que mudou a visão do brasileiro sobre sua própria cultura e o sensível patriota que identificou que o Brasil não é Europa. 

domingo, 9 de junho de 2013

Mercado da informação



Historicamente a mídia foi criada para atender as necessidades de um grupo específico. Técnicas de manipulação e domínio podem ser observadas facilmente desde que o canal foi inserido no País. Através de uma espécie de jornal informativo, veiculado em 1808 com o intuito de transmitir mensagens publicitárias, acontecimentos do país e novidades da Europa, a mídia teve como principal objetivo moldar comportamentos e idéias da população, fato que não é diferente hoje.

Antes da chegada da família real, toda atividade de imprensa era proibida no país. Não era permitido publicar livros, panfletos e, muito menos, jornais. Mesmo sendo um órgão oficial do governo português, o jornal a Gazeta era editado sob censura prévia, que só foi extinta anos depois. A imprensa no século XIX não era concebida com o caráter noticiário de hoje e, sim, doutrinário. As notícias que o jornal veiculava eram de interesse direto da corte, pretendendo moldar a opinião pública a favor da realeza. O que se percebe hoje é que apesar da liberdade de imprensa adquirida, a informação que irá circular nas ruas ainda continua dependendo de uma série de interesses.

Essa liberdade de imprensa, conquistada através da luta dos militantes e que contrariavam sistemas políticos que eram verdadeiras ditaduras, possibilitou essa renovação e dinamização midiática. Agora, temos meios de comunicação diferentes que difundem múltiplos pontos de vista. Um benefício para a democracia e liberdade de expressão.

Trazendo a utilização das mídias para a esfera jornalística é perceptível que os comunicadores vivem dilemas profissionais. A postura editorial de um jornal, o vínculo com empresas de patrocínio ou anunciantes pode comprometer a informação que será veiculada, afetando a opinião de milhares de pessoas que lerão determinado veículo. A mídia informa o que você realmente precisa saber ou noticia o que é interessante para ela? É claro que a aceitação ou não dessa informação depende da bagagem cultural e educacional de cada cidadão, mas se levarmos em conta o ensino público e a cultura de massa é notável que a mídia continua agindo, sim, como um “quarto poder”.

A questão é ainda mais complexa: a mídia e todas as suas possibilidades tecnológicas funciona como um verdadeiro paradoxo. A mídia condena e inocenta, elege e derruba. Ao mesmo tempo em que ela pode dar voz à população e colaborar com a investigação de casos, como o do Carandiru (em que um policial que participou da ação, registrou com uma máquina pessoal o excesso e o abuso de autoridade cometido pelos militares, parte importante no processo judicial que hoje está em andamento e que, na época, foi divulgado pelo repórter Marcelo Godoy) ela destrói moralmente para sempre a vida de pessoas que muitas vezes não fizeram nada, como o Caso Escola Base.

Partindo do princípio da informação e ainda sobre a questão do tipo de notícia que é veiculada, e de seu papel social na nossa comunidade, como é possível a mídia abrir mão ou ocultar medidas que refletem em gerações humanas? (como o caso da medida do governador Geraldo Alckmin que prevê o fim de disciplinas como História, Geografia e Ciências para alunos do ensino fundamental de escolas integrais). Como é possível uma notícia tão relevante sequer ter cobertura? Muito mais importante do que pensar nos benefícios financeiros da profissão, é importante ter consciência da questão social e a cobertura que cada caso deve ter. Será que nós, jornalistas, seremos capazes de cumprir nosso dever? Será que esse mercado da informação não tem um preço alto demais?

Não podemos viver sem as mídias e temos a certeza de que elas nunca irão acabar principalmente pelo grande avanço tecnológico e o surgimento de novos veículos e canais de informação jornalísticos e publicitários. O que não se deve esquecer é a importância social desses meios na construção da opinião pública e na relação emocional da população sobre o que é noticiado, mostrado e divulgado. Como será o futuro da informação?

segunda-feira, 26 de março de 2012

Consumir ou ser consumido?

Com o passar dos anos, diferentes conceitos entraram em transformação. Entre eles estão, moda, música e a cultura de sua forma geral. Intervenções sociais contribuíram para essas mudanças. O gatilho para a mudança cultural baseada na definição de “Consumo e Consumidor” foi a revolução industrial. 

A possibilidade de adquirir produtos com cada vez mais tecnologia, aliada a indústria cinematográfica hollywoodiana, que implantou conceitos na população manipulando o que fazer, vestir e falar, fazem parte do que hoje chamamos de consumo “pós-moderno”.

Adjetivos negativos, antigamente, definiam esse consumo, como “destruir, esgotar, extinguir”. Já, atualmente, “consumir” significa “possuir, ostentar”. Ou seja, até mesmo o significado do termo foi transformado estrategicamente para mudar seu conceito em sociedade. 

Todo esse consumo, sem dúvida, segrega cada vez mais os indivíduos, que hoje se preocupam mais com o “ter” do que com o “ser”, sem mencionar a desigualdade social que transforma a mente e coração dessas pessoas, que se não tem dinheiro, são cada vez mais marginalizadas ou propensas a essa marginalização.

“Se, para uns, o homem é um ser da adaptação ao mundo (tomando-se o mundo não apenas em sentido natural, mas estrutural, histórico-cultural), sua ação educativa, seus métodos, seus objetivos, adequar-se-ão a essa concepção. Se, para outros, o homem é um ser de transformação do mundo, seu que fazer educativo segue um outro caminho. Se o encaramos como uma "coisa", nossa ação educativa se processa em termos mecanicistas, do que resulta uma cada vez maior domesticação do homem. Se o encaramos como pessoa, nosso que fazer será cada vez mais libertador”, Paulo Freire.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

E se?







Muito bom quando trocamos informações e experiências que nos levam ao pensar. Hoje, inesperadamente, conheci um fotógrafo muito expressivo, através do Henrique Frota (um cara muito inteligente que sempre me surpreende com suas informações), chamado Pieter Hugo, que me levou a refletir sobre o preconceito, especificamente sobre o racismo em geral. Vejam a foto e reflitam por si mesmos. E se fosse ao contrário?




domingo, 9 de outubro de 2011

Nexo

Progressiva Construção Da Loucura” - Parte 1 primeiro texto. 2011 - Agosto 11/12/13
[Likich Preinen Kach]
Anderson Patrício




    Maren paralisou, como uma máquina quebrada. Tentou respirar pausadamente, mas seu coração, acelerado, dava indícios de que tinha a funcionalidade seriamentecomprometida. Um ataque cardíaco se desenhava, claramente. Mas ele tinha que abrir aquela porta e extrair do que visse, sua última idéia no mundo dos vivos. E assim o fez: rastejando como um verme, subiu os degraus à duro custo, e abriu a porta.

N

    Mas não era isso que chamava a atenção naquela região longínqua...
    Um homem, cujo nome não se sabe, desde criança, falava sem nexo algum. Não que estivesse fora da idéia; tinha noção do que queria informar, mas as palavras se apresentavam fora de ordem, como se fossem embaralhadas em sua cabeça antes de ganharem os ouvidos dos interlocutores. Em decorrência de tal, evitava-se despendido de palavras com semelhante figura; gasto inútil de conjugações orais com análogo indivíduo; subtração de tempo, paciência e lógica com tão singular criatura; enfim, o deficitário lingüístico era evitado como praga e sua singular falta de concordância, antes de repreendida, censurada drasticamente, era dispensada explicitamente.
    Milhares de possibilidades foram levantadas; tais como: “Foi ensinado desse modo, por isso não consegue mais inverter a ordem das palavras.” “Pretende debochar de nós.” “É doente mental”. “Está possuído por uma entidade.” “Fala outra língua.” “Entende as coisas de maneira dispersa, por isso, fala dispersamente.”
    Após dizerem todas essas frases a respeito do homem, em tom de certeza absoluta, ainda ficavam pensando a respeito do caso.

II

    Kertz, que havia morado numa grande metrópole e tinha uma visão mais ampla das coisas, decidiu que descobriria as razões reais que levavam o homem que falava fora de ordem a se portar de tal maneira esdrúxula, e para tanto, decidiu que estudaria todos os pormenores de sua personalidade. Decidiu que moraria com ele, sob mesmo teto, sem qualquer outra intenção que não fosse a busca por resoluções. Encheu-se de anotações diversas, de apontamentos especulativos, de deduções absurdas, sem jamais escrever algo que tivesse algum fundo científico, ou mesmo que coadunasse com a realidade. Então, meses depois, entorpecido pelas possibilidades diversas, e após tanto conversar com o homem que falava fora de ordem, ele voltou ao convívio social, e quando se aproximou da população, disse:
    – Obter consegui êxito não.

N

    O alvoroço foi imenso: Apontaram para Kertz da maneira mais brusca possível. Ele estava contaminado! A convivência exaustiva com o homem que falava fora de ordem o tornou igual a ele! Entendia claramente o que lhe diziam, mas respondia sem fazer uso da ordem natural das palavras! Estava provado! Era uma doença! Transmissível! Uma enfermidade terrível, abominável, perigosa, que deveria ser expurgada definitivamente! Deveriam matar o homem, e Kertz também, assim, aquela anomalia lingüística seria extinta para sempre!
    Antes que todos corressem em direção aos alvos, e os apedrejassem até a morte, Maren interveio, e convenceu que a medida mais cabível era o isolamento. Deveriam isolar Kertz e o homem numa área mais afastada, proibindo ambos de se aproximar da sociedade sadia. Como justificativa para tamanha ordem, Maren citou um possível castigo divino, dizendo que poderiam ser punidos da maneira mais conveniente possível, como contraírem a doença de ambos, por exemplo, caso os matassem.
    Mesmo tendo certeza que a única maneira de ficar doente era tendo relação contínua com os dois contaminados, a população acatou a ordem de Maren, e os conduziu, proibindo-os de falar, para uma casa caindo aos pedaços, que serviria de hospital para a dupla.


III


    Os dias foram se passando, e apenas Maren ia até lá, sem dizer palavra, levar água e comida para os dois. Maren sequer os via. Apenas deixava os mantimentos e saia apressadamente, ouvindo apenas, uma vez ou outra, os ruídos provenientes da locomoção de algum dos dois, do interior da casa até a parte de fora.
    Mas aquilo estava se tornando um inconveniente! Maren sentia-se um serviçal, levando comida para seu patrão; um entregador de recados grosseiro e sem vida própria, que se limita a levar correspondências para as pessoas, e sequer sabe o que elas sentem após ler as frases; um robô programado para realizar sempre o mesmo serviço, sem nem saber o que está fazendo; ou que seja: um religioso que dá amparo aos leprosos segregados, afundados em lascívia e promiscuidade! Maldita idéia teve! Deveria ter deixado o povo avançar sobre a dupla e só parar com o açoite quando houvesse duas sombras imóveis, afogadas em sangue! Mas fora misericordioso! Idiota! Por trás de que sentimento surgiu a opção de enclausurá-los?
    Baseado em que fundamento? Em que plano para o futuro?
    Castigo divino? Óbvio que não! O castigo já estava lá, representado pela dupla de loucos! Agora, com a população livre da culpa, e os dois vivos, o castigo caiu sobre ele próprio! Bondoso ser, que ia, duas vezes por dia, levar o necessário para que vivessem e se dedicassem sabe-se-lá a que atividade, com certeza mais interessante do que sair pra lá e pra cá, carregando algo que lhes matasse a fome!
   Estava decidido: Maren iria parar, definitivamente. Sairia, fingindo levar as provisões, mas no caminho se livraria delas, e deixaria os recipientes sempre vazios, até que morressem de inanição.

N

    Passados exatos vinte e três dias de claustro, sendo destes, cinco desprovidos de água e qualquer tipo de material orgânico digerível, Maren foi parado por um morador, que disse:
    – Três pessoas sumiram, misteriosamente. Acredita-se que isso tenha alguma ligação com os loucos. Reunimo-nos e chegamos a uma decisão: Você deve entrar na casa, e averiguar se a suspeita é mesmo verídica.

N

    Era só o que faltava! Maren foi encarregado sem que sua opinião fosse considerada! Teria que cumprir a ordem do povo! Entrar no hospício e saber se as pessoas desaparecidas estavam lá! Logo agora, que tinha parado de alimentar os dois! Mais parecia uma conspiração! É claro!    Armaram tudo contra ele, já conhecendo sua personalidade, para que ele seguisse todos os passos planejados pelos mentores da conspiração, até que, achando ter algum domínio, logo caísse em abismo, vendo todo o resto da população rindo de sua cara, de sua fraqueza! Sujeito previsível, patético! Deveria ser devorado ao entrar no cubículo, para que sua burrice repugnante sumisse definitivamente! Mas, antes disso, ainda seria conduzido, como uma marionete! Esse era o objetivo de todos, desde o início.
     Por um instante, Maren chegou a pensar que não havia o homem que falava fora de ordem, ou mesmo que Kertz fosse apenas um ator, integrante da seita que o manipulava. Tudo, desde que Kertz foi morar com o homem, não passava de armação! Quem sabe, até o homem que falava fora de ordem fosse um ator também!
    O domínio indireto! Tal hedionda e eficaz prática que controla os corpos previsíveis! Essa era a resposta!

N

    Enquanto caminhava até a casa, pensou em postergar a ordem, e retornar. Mas estava ansioso demais... Um turbilhão de emoções se formou dentro de sua cabeça, e perante sua imagem. Seus braços estavam quentes, as pernas, trêmulas. Forte taquicardia o acometeu. Não era possível! O que será que encontraria dentro da casa? Os cinco, debochando de sua néscia personalidade? Estariam todos reunidos, saudáveis, conversando normalmente, e ao notarem a chegada de criatura tão desprezível, apontar-lhe-iam os dedos rígidos e soltariam estrondosas gargalhadas?
    Não! Pior: A casa estaria vazia, sem sinal algum de que alguém houvesse estado lá, e Maren enlouqueceria, invariavelmente debilitado após ter sido ludibriado por si próprio e por todos, e, sem mais ter noção algum da realidade, falaria quaisquer palavras sem nexo, antes de se atirar contra a base de qualquer precipício!
     Ora! Poderiam estar mortos! Os cinco, ou apenas os dois! Aquilo poderia ser real! Dois homens que falam fora de ordem, e três pessoas que sumiram por algum motivo difícil de compreender, mas que, mesmo assim, não poderia ser tão perturbador assim!
     Maren estava exagerando! Isso! Pensou demais acerca de inúmeras probabilidades e acabou confuso! Logo entraria na casa e encontraria a resolução: Os dois homens famintos e desidratados, mas vivos, e três pessoas curiosas! Essa sim era a lógica! Era isso que encontraria, sem margens pra qualquer tipo de especulação mirabolante.


IV


    Maren havia chegado: A casa estava logo ali, em sua frente. O silêncio reinava, absoluto. Uma grande sensação de vazio e finalização o atacava. Nem sabia definir como se sentia. Parecia o último dia de sua vida. Não tinha noção do que encontraria lá dentro. Novamente, as possibilidades se manifestaram, agudas, latentes. Teve vontade de desaparecer pra sempre, pra jamais ter conhecimento da verdade. Mas, que verdade? Tudo era uma grande ilusão! Tudo fruto de sua cabeça! Um pesadelo horrendo e irreversível! Qualquer coisa diante de seus olhos e a impressão seria a mesma: Aquilo não era real! Tão logo pensasse dessa forma, outra realidade surgiria, talvez a inversa da anterior!
    Maren paralisou, como uma máquina quebrada. Tentou respirar pausadamente, mas seu coração, acelerado, dava indícios de que tinha a funcionalidade seriamente comprometida. Um ataque cardíaco se desenhava, claramente. Mas ele tinha que abrir aquela porta e extrair do que visse, sua última idéia no mundo dos vivos. E assim o fez: rastejando como um verme, subiu os degraus à duro custo, e abriu a porta.

V

    Era um surto, uma epidemia! Todos falando fora de ordem. Começou com um homem, depois outro... Logo, toda a população, exceto Maren! Era algo realmente grave: Ninguém mostrava indício de que sabia que estava verbalizando equivocadamente! Era algo sério, que tinha que ser combatido imediatamente.
    Então, julgando-se um deus, único ser saudável, escolhido dentre centenas, ele não pensou duas vezes: Esperou o momento em que estavam dormindo, sob o mesmo teto, numa comemoração religiosa, e ateou fogo em todos.
    Enquanto os corpos carbonizados se debatiam de sofrimento, Maren, por algum instante, percebeu que o que eles diziam fazia sentido.

N

    Um homem tinha um problema esquisito: falava sem nexo algum. Não que estivesse fora da idéia; tinha noção do que queria informar, mas as palavras se apresentavam fora de ordem, como se fossem embaralhadas em sua cabeça antes de ganharem os ouvidos dos interlocutores. Em decorrência de tal, evitava-se despendido de palavras com semelhante figura; gasto inútil de conjugações orais com análogo indivíduo; subtração de tempo, paciência e lógica com tão singular criatura; enfim, o deficitário lingüístico era evitado como praga e sua singular falta de concordância, antes de repreendida, censurada drasticamente, era dispensada explicitamente.

N

    Kertz, um homem que havia morado numa grande metrópole e tinha uma visão mais ampla das coisas, com pena do pobre coitado que falava fora de ordem - anônimo desde o princípio de sua existência -, pensou rapidamente e decidiu que a partir daquele dia o chamaria de Maren.


fim



Por algum motivo desconhecido, pessoas especiais aparecem na nossa vida, todas elas nos ensinam alguma coisa, seja boa ou ruim. Na verdade, até mesmo as que acabamos criando algum conflito também nos passam experiências. 
Com o Anderson Patrício, autor do conto acima, aprendo constantemente coisas que só me tem feito crescer. Passo a observar pontos diferentes do mesmo fato. 


 Seja filosofando a sociedade ou falando simplesmente sobre crenças, costumes, ações e sentimentos humanos, trocamos experiências que são difíceis de descrever.
Somos avessos em muitas coisas, mas essa cumplicidade, ganhada com o tempo, me faz admirar, cada vez mais, esse ser tão complexo. 
Obrigada por tudo que me ensina, 7. Esse número sempre me deu sorte.

"Cada pessoa que passa em nossa vida, passa sozinha, porque cada pessoa é única e nenhuma substitui a outra! Cada pessoa que passa em nossa vida passa sozinha e não nos deixa só porque deixa um pouco de si e leva um pouquinho de nós. Essa é a mais bela responsabilidade da vida e a prova de que as pessoas não se encontram por acaso".
                                                                                                                                   Charles Chaplin


quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Movimentados


Sempre detestei política, minha ignorância sobre o assunto me fazia crer que todos os “políticos” eram iguais. Hoje em dia, aprendi a diferença entre política e politicagem.

Acostumada a ver casos de corrupção e oportunismo na TV, e não só nela, minha cidade sempre foi marcada por isso, era difícil acreditar que alguma coisa poderia ser diferente. Talvez essa descrença fosse falta de maturidade e alienação política da minha parte. Mas hoje, me sinto mais amadurecida e aprendendo a cada dia.

Convivo com pessoas que me provam, em cada atitude, que é possível manter um governo honesto, mesmo existindo (sempre irá existir) gente interessada no próprio umbigo, e em encher cuecas e calcinhas, e que, além disso, faz de tudo para prejudicar o trabalho limpo.

Hoje recebi um golpe duro. Duro para meu coração e mente. Uma manifestação que poderia ser limpa e justa me mostrou o quanto as pessoas podem ser feitas de fantoches nas mãos de grandes manipuladores que se preocupam em se beneficiar em cima de outras pessoas, ou seja, politicagem para as próximas eleições.

 Sempre admirei os professores. Sempre os achei digno de salários melhores, em todo o Brasil, essa é uma das classes menos valorizadas. O trabalho de um professor é lindo, e, sem dúvidas, merece ser reconhecido. Mas hoje, observar com meus próprios olhos pessoas envolvidas em conchaves políticos e não em melhorar a vida desses profissionais me fez repensar o sentido de ideologia. Até quando isso vai existir?

Enquanto professores ganham menos de mil reais por mês, vereadores ganham mais de dois mil para fazer campanha, quatro vezes por mês, na tribuna. Mas isso ninguém contesta ou protesta.

Penso que nosso maior protesto é na hora do voto. Não falo em protestar votando em tiriricas, mas sim, em pessoas que realmente querem o bem para toda uma comunidade. Fato que influencia no passado, presente e que modificará o futuro de milhares de pessoas. 

terça-feira, 5 de julho de 2011

De que lado você está?


Hoje proponho pensarmos em um tema muito polêmico em todo o Brasil: o nosso sistema penitenciário. Dados divulgados pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça) apontam que o Brasil tem a terceira maior população carcerária do mundo, com 494.598 presos. Com essa marca, o país está atrás apenas dos Estados Unidos, que têm 2.297.400 presos, e da China, com 1.620.000 encarcerados.

Há pessoas radicais que preferem a implantação da pena de morte no Brasil. Que o nosso atual sistema é frágil e habitualmente serve de escola para novos “meliantes” todos sabem, mas será que essa forma seria eficaz em um país em que certos indivíduos facilmente se corrompem? Será que a justiça funcionaria igualmente para todos? Será que podemos julgar o valor da vida de alguém?  

Pesquisas em estados norte-americanos, que tem como lei a pena de morte, revelam que o índice de criminalidade não diminui e, na maioria das vezes, é semelhante ao de estados em que a punição não é dessa forma.

A pena de morte gera muita discussão, mas é algo que não está tão perto da nossa realidade ou de um futuro próximo. Por falar em futuro, lhe pergunto: Você empregaria um ex-presidiário? 

É comum ouvirmos “errar é humano” ou a frase bíblica “quem nunca errou que atire a primeira pedra”, mas na prática as coisas não funcionam bem assim. São raros os casos de pessoas que passam pela prisão e deixam o mundo do crime ou são raros os casos de pessoas que deixam o mundo do crime porque conseguem uma nova oportunidade?

Esses e muitos outros problemas são fruto da cultura do nosso país, de problemas psicológicos desenvolvidos e da desigualdade social. Cada um deles influencia de forma “eficiente” a vida de pessoas que entraram no mundo do crime, seja pela razão que for. 

Nos últimos cinco anos, houve um crescimento de 37% no número de presos do Brasil. Do total da população carcerária, 44% ainda são presos provisórios, ou seja, esperam o julgamento de seus processos. Agora, entra em vigor a lei que muda a forma de executar as prisões preventivas no Brasil, mudança que vai afetar a ação da polícia e também da Justiça. O tema tem provocado polêmica: uns acreditam que vai aumentar a impunidade, outros dizem que vai organizar o sistema prisional brasileiro, que se encontra superlotado. 

Um dos maiores erros do ser humano é o de condenar e não pensar em maneiras de evitar os problemas. A única forma eficaz de evitar que o futuro de alguém se comprometa é investindo na educação. A educação é a única forma de transformar nosso ser. A família e a escola influenciam diretamente o futuro das crianças, que no futuro, escolherão que caminho seguir, por isso a importância delas em cada novo indivíduo.

E sobre a pena de morte? Compartilho a opinião de alguém que admiro muito que me disse uma vez: “As injustiças sociais não permitem que a pena de morte seja implantada no Brasil”, seu nome é João Luis Montini Filho.