Nascido de sete meses em um período nacionalista, Heitor Villa-Lobos tinha vontade de vir mais cedo ao mundo para mostrar sua genialidade e transformar nossa música brasileira, totalmente influenciada pela Europa, na época. Considerado o precursor do que hoje chamamos de música erudita brasileira, o carioca quebrou fronteiras e criou nossa própria identidade cultural no estilo clássico. Na mesma década de seu nascimento, a história do Brasil foi marcada pela abolição da escravatura e a proclamação da república.
É a partir de Villa-Lobos que o País descobre a música erudita e passa, desde então, a produzir talentos em série como: Lorenzo Fernandez, Francisco Mignone, Radamés Gnatalli, Camargo Guarnieri, Guerra-Peixe, Cláudio Santoro e Edino Krieger, alguns desses expoentes.
A Música Erudita dos primeiros séculos de colonização portuguesa vinculava-se estritamente à Igreja e à catequese, Villa-Lobos inovou e criou a face musical do Brasil, baseada essencialmente no nosso folclore. Foi através de fonogramas que guardavam registros da musicalidade indígena que o compositor criou uma de suas mais famosas canções: Uirapuru.
Não parece maluquice imaginar um compositor de música clássica ter como base a cultura dos índios para criar canções eruditas, numa época que a Europa ditava tendências? Villa-Lobos fez. Entre outras músicas famosas estão as Bachianas Brasileiras, músicas dramáticas, sinfonias, óperas e inúmeras outras canções. São mais de 1000 composições registradas.
Ousado, em 1922 junto com artistas famosos como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral e Manoel Bandeira, Villa trabalhou na organização da Semana de Arte Moderna. Com uma doença que o fez enfaixar os pés e ser considerado “aleijado” pela plateia, é durante essa semana inovadora que lhe acertam tomates e ovos podres em reprovação ao trabalho apresentado. Para muitos, a música de Villa-Lobos era 8 ou 80. Ou amavam ou odiavam. Ele não se abalou. De lá, disse: “Recebi uma coroa de vaias que me cobriu de glórias”.
Convidado por Getúlio Vargas, o músico trabalhou no programa de Educação Musical das escolas do então presidente. Fazendo uso das manifestações folclóricas, Lobos ajudou a compor as principais canções de exaltação do Governo Vargas. Villa acreditava que com esse trabalho, poderia desenvolver a intelectualidade e o interesse das crianças pela arte brasileira. Getúlio enxergou como uma arma publicitária para seu governo ditador.
Anos depois de viajar por diferentes países do mundo, em 1956, Villa-Lobos descobre um câncer. É essa a doença que três anos mais tarde levaria o músico à morte. Amigos próximos e companheira Mindinha, contam que durante uma das últimas entrevistas antes de falecer, uma jornalista raposa o questiona: “Que tipo de canções o senhor está compondo?”. E ele, debilitado pela doença, mas sem nunca perder seu humor natural, brinca: “Eu, minha querida? Eu estou decompondo”. Assim é parte da história do primeiro músico que mudou a visão do brasileiro sobre sua própria cultura e o sensível patriota que identificou que o Brasil não é Europa.
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