domingo, 13 de março de 2011

Ilusões Narcísicas

A quebra do narcisismo de Bob

Bob nasceu em um canil da guarda municipal, sua mãe muito dedicada tivera uma complicação durante o seu parto e seus dois irmãos não resistiram, ele então ficou sendo filho único. Sua mãe era a mascote do canil e assim como Bob ela era da raça pinsher.

Sim, Bob era um pinsher pequenino. Preto com a parte inferior do corpo marrom, como num dobermann; aliás, neste canil havia muitos dobermanns e eram eles quem eram treinados para fazer a ronda pela cidade.

Logo cedo os dobermanns estavam a postos para seu treino diário e Bob, ainda pequeno, lá estava para assistir o espetáculo matinal. Ele sonhava em crescer, ser treinado e sair dali junto com um guarda municipal para cuidar da cidade. No treinamento, os dobermanns pulavam arcos, passavam por túneis, buscavam bastões que os treinadores lamçavam, mas, à parte que Bob mais gostava era o treino do ataque, onde o treinador vestia nos braços longas luvas protetoras para que os enormes dobermanns, um por um, mordessem o treinador em uma simulação de ataque ao inimigo. Bob delirava ao ver tudo aquilo, a força que aqueles grandes animais tinham e a violência com que mordiam.

Quando voltava para casa ele contava tudo para sua mãe, que ouvia atentamente seu relato detalhado que incluía seu sonho de se tornar um grande cão de guarda.

É, Bob achava que era um dobermann, aliás, ele não achava, ele tinha certeza disso, quando admirava sua imagem refletida num velho caco de espelho, lá no fundo do canil. Sua coloração era idêntica com a dos grandes dobermanns. Você deve estar se perguntando: Mas e a mãe dele, também não era pequenininha?

A resposta é sim. Mas, você já notou quando a gente ama a nossa mãe, como ela fica grande e poderosa? Um dado da realidade que passou despercebido por ele. Talvez seu sonho fosse maior que esse “pequeno” detalhe do real. E de mais a mais, Bob constatava a grandeza dela quando sua mãe contava a ele que conhecera seu pai em uma de suas saídas para passear no parque e que nunca mais o vira. Contava a ele o quanto sofrera em seu parto e o quanto lutara para que ele estivesse vivo hoje. O sonho de Bob incluía o objetivo de ser forte e poderoso até para cuidar de sua mãe.

Sua mãe entendia tudo o que ocorria, mas com lágrimas nos olhos, não tinha coragem de revelar a verdade a Bob e desfazer todo o sonho que movia a vida daquele minúsculo cachorrinho. Ele pensava nisso vinte e quatro horas por dia, até dormindo ele sonhava e se agitava no ninho, sonhando que treinava com os grandes dobermanns.

Por quantas vezes nós não somos um pouco de Bob, imaginando que nosso valor está naquilo que o outro tem ou é? Imaginamos que para sermos felizes teríamos que ser de outra raça, outro sexo, outra cor, outra forma, que não a nossa.

Quanto ao Bob? Ele ficou sabendo da verdade. Sua mãe refletiu e chegou a conclusão de que ela seria a melhor pessoa para dizer a verdade e que acharia a melhor forma, lugar e momento para revelar a ele a realidade. Ele passou alguns dias muito triste e choramingando pelos cantos. Mas um belo dia descobriu o filho do proprietário do canil, que o adotou e fez dele seu mascote. Bob acabou vendo que talvez brincar, correr e se divertir com o garoto, seria bem melhor que se arriscar em rondas pela cidade e morder pessoas.

Prof. Renato Dias Martino 

Psicoterapeuta e Músico
Fone: 17-30113866 



Conclusões pessoais:

Vivemos ou, até mesmo, sobrevivemos por ilusões. Por muitas vezes, nos vemos acomodados e satisfeitos dentro da caverna.

O comodismo não nos faz enxergar a realidade. A realidade/verdade não interessa pois machuca e desfaz o conceito de que o “eu” é tudo (individualismo, processo primário, ignorância). Entretanto, quando alguém supera seus medos, incertezas, desconfianças e alcança a “saída da caverna” o êxtase sentido ao “respirar ar puro”, obter conhecimento, supera qualquer ilusão sustentada por bases fracas e autodestrutivas.

Um comentário:

  1. A gente é o que é... pois saímos dessa caverna! E por isso somos assim... aceitados por poucos, mais felizes.. muito felizes! E isso é o que verdadeiramente importa... não precisamos fazer média pra ninguém! =D A vida vale a pena assim...

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